domingo, 31 de março de 2013

Como formar leitores com ajuda de Narizinho e a turma do Sítio


Usando a obra de Monteiro Lobato como ponto de partida, professora de Limeira, no interior de São Paulo, conseguiu semear o prazer e o interesse pela leitura entre os alunos

Quando se tem nove anos o mundo soa um pouco diferente do que realmente parece ser para os adultos. Nesse mundo onde tudo ainda é descoberta e sonho, uma boneca de pano falante ou um sabugo de milho letrado são personagens que estimulam a imaginação e abrem caminho para o gosto pela leitura.

Ao vislumbrar essa possibilidade, a professora Neuseli de Queiroz Venâncio, da EMEIEF José Roberto Braz, em Limeira, a 154 km de São Paulo, resolveu resgatar os contos de Monteiro Lobato - esquecidos até por ela - e levá-los para as mãos dos alunos da quarta série do Ensino Fundamental.

Por meio de um projeto didático, a professora levou aos alunos os grandes clássicos infantis do autor. "Além de trabalhar a leitura, queria inseri-los no universo da literatura, que passa também pela escrita e pela opinião sobre as obras", diz. Durante quatro meses, a rotina de estudos do período matutino começou com uma história de Lobato, lida em voz alta pela professora. Daí o nome do projeto: "Bom dia, Monteiro Lobato!".

Neuseli conta que começou trabalhando Histórias da Tia Nastácia, que encantou os pequenos. Lendo um conto por dia, percebeu que os alunos gostavam cada vez mais e aprofundou as leituras com Reinações de Narizinho. "Esse livro consegue levar as crianças para um mundo de fantasia e é especial para mim, pois também li na minha infância."

Círculos de leitura quinzenais

Além das leituras feitas em sala, Neuseli propôs que os alunos levassem livros do autor para ler em casa. Em uma reunião com os pais, apresentou o projeto e explicou a importância da participação deles nessa atividade. Os livros mais solicitados pelos alunos foram Reinações de Narizinho, Caçadas de Pedrinho (principalmente, pelos meninos), O Saci, A Reforma da Natureza, Histórias Diversas, A Chave do Tamanho e Memórias da Emília. A proposta fez tanto sucesso entre os alunos que foi necessário fazer empréstimos do acervo da biblioteca municipal de Limeira para que houvesse livros para todos.

A cada 15 dias, aconteciam os círculos de leitura nos quais os alunos falavam sobre a obra que estavam lendo. "Cada aluno dava sua opinião, recomendava ou não o livro para algum colega e dizia se havia aprendido alguma coisa nova. Nada foi forçado. Muitos não conseguiram relatar nada no primeiro círculo, mas no terceiro ou quarto já estavam participando com naturalidade", relata Neuseli.

Gravação de uma fita com contos de Lobato

Melhorar a fluência da leitura dos alunos era outro objetivo do projeto. Para isso, convidou os alunos a produzir uma fita-cassete na qual eles gravariam a leitura de algumas histórias de Reinações de Narizinho, escolhidas por eles mesmos. Como a fita seria doada para uma instituição que atende pessoas com deficiência visual, a turma realmente se empenhou para que o produto final tivesse qualidade. "Foram dias de ensaios, erros e acertos. Eles ficavam exaustos, mas não queriam parar até ficarem satisfeito com a própria leitura", lembra a professora.

Reescrita de histórias acrescentando personagens

Depois de familiarizados com várias obras e com parte do percurso do escritor, os alunos foram desafiados a reescrever algumas histórias lobatianas, inserindo novos personagens nas histórias. Os textos foram sucessivamente revisados e editados para compor o livro "Baú de Contos", com direito a manhã de autógrafos no lançamento.

"Um dos maiores ganhos com o projeto foi também a capacidade de se expressar, contar o que achou da leitura, opinar. Monteiro Lobato foi o primeiro escritor brasileiro a deixar as crianças se expressarem. Emília só passa fazer parte da história quando começa a falar. Isso é pioneiro também na pedagogia. A criança tem vez para Lobato", comenta a professora.

O projeto teve uma única edição, mas os leitores formados lá continuam fãs de Monteiro Lobato. "Bastante tempo depois, quando já não trabalhava mais com a turma, me encontravam e perguntavam se tinha algo de novo do Monteiro Lobato. Foi um projeto muito gratificante", diz.

fonte: revistaescola.com.br

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