segunda-feira, 24 de maio de 2010

Você sabe se seu filho é disléxico?


Dislexia pode dificultar o aprendizado do seu filho na escola, mas não quer dizer que ele não esteja interessado nos estudos

Renata Losso, especial para iG São Paulo

Se uma das maiores dificuldades do seu filho no início da vida escolar é alfabetizar-se, talvez o problema dele não seja somente falta de atenção. De acordo com a psicopedagoga Silvia Amaral, membro da Diretoria da Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp) e coordenadora da Elipse Clínica Multidisciplinar, se processar as informações é difícil para ele, tanto na leitura quanto na escrita, é possível que ele seja disléxico.

A dislexia é um distúrbio que abrange uma disfunção específica da leitura, mas também pode afetar a linguagem como um todo, com manifestações também na escrita. “O cérebro deles funciona de forma diferente, então na leitura eles podem pular linhas e na escrita eles podem apresentar textos com troca de letras, por exemplo”, explica Amaral. Mas, segundo ela, estes são só alguns dos possíveis sintomas: “Nenhum caso é idêntico a outro, cada disléxico apresentará diferentes combinações de sintomas”.

O que causa e como reconhecer

Segundo Márcia Maria Barreira, psicóloga e coordenadora da Associação Brasileira de Dislexia (ABD), este problema é genético e, portanto, se a dislexia já existe no histórico familiar, a atenção aos sintomas deve ser redobrada. “Mas a base é de ordem neurológica”, afirma Amaral. De acordo com ela, o funcionamento do cérebro do disléxico ocorre por trajetos diferentes – e maiores – até chegar ao centro da linguagem, por isso a compreensão acaba prejudicada.

No entanto, existem muitos detalhes que devem ser analisados para diagnosticar uma criança com dislexia. “As crianças menores, por exemplo, começam a ter dificuldades para memorizar canções que aprendem na escola e, em livrinhos infantis, se interessam mesmo pelas figuras, e não pelo que está escrito”, afirma Barreira. A partir do momento que elas iniciam o processo de alfabetização, a especialista lembra que são necessários dois anos de estudo para diagnosticar o problema. “Antes disso, dependendo dos sintomas, a criança pode estar somente num quadro de risco”, explica.

E os sintomas podem ser vários: dificuldades para começar a falar, na coordenação motora e até mesmo dificuldades para ter uma boa memória de curto prazo. Mas, segundo Amaral, é preciso excluir alguns fatores para que a dislexia seja mesmo diagnosticada. “É preciso aplicar testes para ver se a criança possui uma inteligência adequada, por exemplo. Ela pode ter um rebaixamento mental e aí é outro problema”, explica. Além disso, problemas emocionais severos, como a psicose, podem apresentar sintomas parecidos. Se estes fatores forem descartados, então a dislexia pode ser o real motivo.

Como tratar

A partir do momento em que é diagnosticada a dislexia, primeiramente é preciso que haja um ambiente favorável para que a criança possa aprender a superar os sintomas. E se tiver um diagnóstico precoce, melhor ainda, para que problemas emocionais e sociais não se desenvolvam. “Os disléxicos podem ter um prejuízo emocional e acabar se achando crianças burras ou se tornando pessoas de baixa autoestima”, informa Barreira.

No entanto, não existe medicamento e o tratamento dependerá da idade da criança e das maiores dificuldades dela. Segundo Barreira, crianças menores normalmente são atendidas por fonoaudiólogos, por ajudarem mais no desenvolvimento com palavras e sons, e crianças maiores são atendidas por psicopedagogos, que trabalham mais na questão da compreensão e interpretação de texto. “Mas não é que eles precisarão de tratamento para o resto da vida”, completa.

“O clínico irá tratar a criança de acordo com os sintomas que ela possui”, afirma Amaral. Se ela possui uma dificuldade maior em se organizar, então serão trabalhadas estratégias de organização, por exemplo. “Ela será ensinada a lidar melhor com a leitura e a escrita e será conscientizada das facilidades que ela possui, para que compense as dificuldades”, explica. De acordo com Barreira, na medida em que vão sendo tratadas, as crianças passam a perceber os erros que cometem e passam a se corrigir.

Sem o tratamento e sem apoio familiar, o disléxico poderá ter um prejuízo no cotidiano em geral. “Vemos muitos adolescentes e adultos que acabam indo para as drogas e para o álcool. Começam a ter um desinteresse muito grande pela escola e podem até chegar a quadros de depressão, mesmo se forem crianças”, afirma Barreira. Segundo Amaral, até mesmo os pais tendem a ter um certo desânimo quando a dislexia do filho é diagnosticada. Mas não é bem assim que o problema deve ser encarado.

O disléxico e a família

“Normalmente os pais, quando descobrem que o filho é disléxico, logo falam que ele não vai poder escolher uma profissão, que não vai conseguir alcançar nada; e não é verdade”, afirma Amaral. Segundo ela, se quando adulta a criança tiver força de vontade e determinação, ela saberá contornar os problemas e poderá viver bem e ser o que ela desejar na vida. “Além disso, eu sempre gosto de dizer aos pais que muitas vezes os disléxicos possuem o lado direito do cérebro mais desenvolvido, então são pessoas que se dão muito bem na área mais visual e possuem bastante criatividade”, conta.

Veja abaixo algumas dicas de Amaral para que, desde pequena, a criança já possa começar a conviver melhor com a dislexia:

- Quanto mais estímulos ela tiver, melhor: proporcionar atividades e jogos diferentes em todos os momentos do dia desenvolve a atenção da criança;

- Sempre que estiver com ele por perto, converse e troque ideias: acrescente informações à vida dele;

- Leve-o ao teatro, ao cinema, ao museu, a lugares novos que podem estimular a inteligência e a atenção dele;

- Ter uma vida saudável com a prática de esportes também colabora para que ele esteja mais atento e, ainda, desenvolverá a noção corporal, como a coordenação motora.

fonte delas.ig.com.br

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