Especialistas explicam as características da gagueira e mostram como os pais devem lidar com o problema
Renata Losso, especial para o IG São Paulo.
Crianças entre dois e quatro anos de idade podem passar por uma fase de gagueira natural, que é recorrente da aquisição da linguagem, mas os pais devem estar atentos se o problema persistir por mais de seis meses. Neste caso, é preciso procurar um especialista. De acordo com Ignês Maia Ribeiro, fonoaudióloga e Presidente do Instituto Brasileiro de Fluência , quanto mais cedo a gagueira for detectada e tratada, melhor.
A gagueira é um distúrbio de fluência que atinge 5% da população mundial e possui como características a repetição de sílabas ou palavras e o prolongamento ou o bloqueio delas na hora da fala. Mas há cura: “O quanto antes interferirmos neste processo, maior a possibilidade de reversão”. De acordo com Ribeiro, somente 1% da população irá desenvolver a gagueira de maneira crônica.
Há duas causas fundamentais para a gagueira: uma é a lesão cerebral, causada por pequenos traumatismos decorrentes da anoxia (deficiência de oxigênio). A outra é causada por hereditariedade. “Nós costumamos ouvir dos pais que o filho estava atravessando a rua, um carro quase o atropelou, e ele ficou gago. Na verdade, isso só desencadeou um processo que ele já tinha; as questões emocionais formam apenas um agravante. A causa, na verdade, é neurocentral e involuntária”, explica a especialista. Ou seja, a gagueira acontece por uma dificuldade do cérebro para a programação motora da fala, ocasionando falhas não esperadas pelo locutor.
De acordo com Nadia Pereira Azevedo, professora de Fonoaudiologia da Universidade Católica de Pernambuco e especialista em linguagem e gagueira, alguns estudos mostram que situações desconfortáveis, como apresentações ou provas orais, podem gerar condições de gagueira temporárias. “A gagueira não é uma questão psicológica ou comportamental, mas há algumas condições que podem desencadeá-la”, explica.
Como reconhecer a gagueira É por volta dos três ou quatro anos de idade que a gagueira costuma ser descoberta. “Ela costuma aparecer nesta fase, com picos de incidência também por volta dos sete e dos dez anos”, conta Ribeiro. Porém, existem dois tipos de disfluência: a comum e a atípica. A primeira, todo mundo tem em algum nível. É aquela que aparece quando a frase apresenta repetições ou interjeições, mas some depois. A segunda, no entanto, é preocupante e, de acordo com a especialista, fácil de ser detectada. Se a criança costuma repetir palavras ou sílabas mais de três vezes, faz o uso exagerado de interjeições, leva um tempo acima do esperado para resgatar uma palavra ou dar continuidade na fluência e costuma ter um prolongamento muito grande das sílabas, os pais devem levar tais características em consideração e procurar um especialista.
Azevedo também aponta expressões corporais como sinais de gagueira: bater os pés ou piscar os olhos fortemente enquanto fala, por exemplo. Se este tipo de angústia se tornar recorrente, é importante procurar um profissional da área para uma avaliação. “Se passou de seis meses e este comportamento continua, a ajuda de um fonoaudiólogo especializado em gagueira é essencial”, afirma Ribeiro. O especialista saberá dizer se uma gagueira desaparecerá rapidamente ou se a criança precisará passar por um tratamento terapêutico.
Ribeiro conta que há dois caminhos a serem seguidos a partir da detecção da gagueira. “No atendimento indireto, que ocorre quando o problema ainda não está tão avançado, os pais recebem orientações sobre o que está acontecendo e como lidar, e a criança passa por um acompanhamento. Se for um caso de gagueira muito acima do esperado, ela precisa entrar em terapia”, afirma a especialista. Na maioria das vezes, o primeiro tratamento já é suficiente para que haja progresso, mas os pais possuem um papel fundamental para que isto aconteça.
Como os pais devem agir Primeiramente é preciso entender que a gagueira é uma forma de linguagem involuntária, e não proposital, e que requer ajuda para que não se prolongue demasiadamente. “Quatro a cada cinco pessoas com gagueira possuem chances de ter o problema resolvido, mas não se deve esperar muito tempo para ver se ela passa sozinha”, explica Ribeiro.
Para os filhos vencerem a gagueira com mais facilidade, Barry Guitar e Edward G. Conture, autores dos livros “The Child Who Stutters: To the Family Physician” e “The Child Who Stutters: To the Pediatrician” (na tradução literal: “A Criança que Gagueja: Para o Médico da Família” e “Para o Pediatra”), reuniram sete conselhos a serem seguidos pelos pais. As especialistas entrevistadas assinaram embaixo:
- Fale com a criança sem pressa e com pausas frequentes. Quando seu filho terminar de falar, espere alguns segundos antes de você começar a falar. A fala lenta e relaxada é muito mais eficaz do que criticar ou dizer para a criança falar devagar
- Reduza o número de perguntas ao seu filho. As crianças falam mais livremente ao expressar as próprias ideias ao invés de responder às perguntas dos adultos. Porém, mostre que está prestando atenção e faça comentários sobre o que ele diz
- Utilize expressões faciais e linguagem corporal para demonstrar ao seu filho que você está mais atento ao conteúdo da mensagem do que à sua forma de falar
- Reserve alguns minutos, todos os dias, para dar atenção a ele. Deixe que ele escolha o que gostaria de fazer, permita que ele dirija as atividades, decidindo se quer falar ou não. Este momento pode aumentar a autoconfiança da criança pequena, porque ela vai saber que os pais apreciam a companhia dela
- Auxilie todos os membros da família a escutarem e a esperarem sua vez de falar. Para as crianças, principalmente para as que gaguejam, é mais fácil falar quando há poucas interrupções e quando contam com a atenção do ouvinte
- Observe como você se relaciona com seu filho: sempre que puder mostre que você está prestando atenção ao que ele está falando e que ele pode utilizar o tempo que precisar para falar. Evite a crítica
- Acima de tudo, faça seu filho saber que você o aceita como ele é. O mais importante para o seu filho será o seu apoio, quer ele gagueje ou não
fonte delas.ig.com.br
Renata Losso, especial para o IG São Paulo.
Crianças entre dois e quatro anos de idade podem passar por uma fase de gagueira natural, que é recorrente da aquisição da linguagem, mas os pais devem estar atentos se o problema persistir por mais de seis meses. Neste caso, é preciso procurar um especialista. De acordo com Ignês Maia Ribeiro, fonoaudióloga e Presidente do Instituto Brasileiro de Fluência , quanto mais cedo a gagueira for detectada e tratada, melhor.
A gagueira é um distúrbio de fluência que atinge 5% da população mundial e possui como características a repetição de sílabas ou palavras e o prolongamento ou o bloqueio delas na hora da fala. Mas há cura: “O quanto antes interferirmos neste processo, maior a possibilidade de reversão”. De acordo com Ribeiro, somente 1% da população irá desenvolver a gagueira de maneira crônica.
Há duas causas fundamentais para a gagueira: uma é a lesão cerebral, causada por pequenos traumatismos decorrentes da anoxia (deficiência de oxigênio). A outra é causada por hereditariedade. “Nós costumamos ouvir dos pais que o filho estava atravessando a rua, um carro quase o atropelou, e ele ficou gago. Na verdade, isso só desencadeou um processo que ele já tinha; as questões emocionais formam apenas um agravante. A causa, na verdade, é neurocentral e involuntária”, explica a especialista. Ou seja, a gagueira acontece por uma dificuldade do cérebro para a programação motora da fala, ocasionando falhas não esperadas pelo locutor.
De acordo com Nadia Pereira Azevedo, professora de Fonoaudiologia da Universidade Católica de Pernambuco e especialista em linguagem e gagueira, alguns estudos mostram que situações desconfortáveis, como apresentações ou provas orais, podem gerar condições de gagueira temporárias. “A gagueira não é uma questão psicológica ou comportamental, mas há algumas condições que podem desencadeá-la”, explica.
Como reconhecer a gagueira É por volta dos três ou quatro anos de idade que a gagueira costuma ser descoberta. “Ela costuma aparecer nesta fase, com picos de incidência também por volta dos sete e dos dez anos”, conta Ribeiro. Porém, existem dois tipos de disfluência: a comum e a atípica. A primeira, todo mundo tem em algum nível. É aquela que aparece quando a frase apresenta repetições ou interjeições, mas some depois. A segunda, no entanto, é preocupante e, de acordo com a especialista, fácil de ser detectada. Se a criança costuma repetir palavras ou sílabas mais de três vezes, faz o uso exagerado de interjeições, leva um tempo acima do esperado para resgatar uma palavra ou dar continuidade na fluência e costuma ter um prolongamento muito grande das sílabas, os pais devem levar tais características em consideração e procurar um especialista.
Azevedo também aponta expressões corporais como sinais de gagueira: bater os pés ou piscar os olhos fortemente enquanto fala, por exemplo. Se este tipo de angústia se tornar recorrente, é importante procurar um profissional da área para uma avaliação. “Se passou de seis meses e este comportamento continua, a ajuda de um fonoaudiólogo especializado em gagueira é essencial”, afirma Ribeiro. O especialista saberá dizer se uma gagueira desaparecerá rapidamente ou se a criança precisará passar por um tratamento terapêutico.
Ribeiro conta que há dois caminhos a serem seguidos a partir da detecção da gagueira. “No atendimento indireto, que ocorre quando o problema ainda não está tão avançado, os pais recebem orientações sobre o que está acontecendo e como lidar, e a criança passa por um acompanhamento. Se for um caso de gagueira muito acima do esperado, ela precisa entrar em terapia”, afirma a especialista. Na maioria das vezes, o primeiro tratamento já é suficiente para que haja progresso, mas os pais possuem um papel fundamental para que isto aconteça.
Como os pais devem agir Primeiramente é preciso entender que a gagueira é uma forma de linguagem involuntária, e não proposital, e que requer ajuda para que não se prolongue demasiadamente. “Quatro a cada cinco pessoas com gagueira possuem chances de ter o problema resolvido, mas não se deve esperar muito tempo para ver se ela passa sozinha”, explica Ribeiro.
Para os filhos vencerem a gagueira com mais facilidade, Barry Guitar e Edward G. Conture, autores dos livros “The Child Who Stutters: To the Family Physician” e “The Child Who Stutters: To the Pediatrician” (na tradução literal: “A Criança que Gagueja: Para o Médico da Família” e “Para o Pediatra”), reuniram sete conselhos a serem seguidos pelos pais. As especialistas entrevistadas assinaram embaixo:
- Fale com a criança sem pressa e com pausas frequentes. Quando seu filho terminar de falar, espere alguns segundos antes de você começar a falar. A fala lenta e relaxada é muito mais eficaz do que criticar ou dizer para a criança falar devagar
- Reduza o número de perguntas ao seu filho. As crianças falam mais livremente ao expressar as próprias ideias ao invés de responder às perguntas dos adultos. Porém, mostre que está prestando atenção e faça comentários sobre o que ele diz
- Utilize expressões faciais e linguagem corporal para demonstrar ao seu filho que você está mais atento ao conteúdo da mensagem do que à sua forma de falar
- Reserve alguns minutos, todos os dias, para dar atenção a ele. Deixe que ele escolha o que gostaria de fazer, permita que ele dirija as atividades, decidindo se quer falar ou não. Este momento pode aumentar a autoconfiança da criança pequena, porque ela vai saber que os pais apreciam a companhia dela
- Auxilie todos os membros da família a escutarem e a esperarem sua vez de falar. Para as crianças, principalmente para as que gaguejam, é mais fácil falar quando há poucas interrupções e quando contam com a atenção do ouvinte
- Observe como você se relaciona com seu filho: sempre que puder mostre que você está prestando atenção ao que ele está falando e que ele pode utilizar o tempo que precisar para falar. Evite a crítica
- Acima de tudo, faça seu filho saber que você o aceita como ele é. O mais importante para o seu filho será o seu apoio, quer ele gagueje ou não
fonte delas.ig.com.br
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