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Relacionar sustentabilidade e consumo crítico ainda é novidade e uma tarefa muito difícil que a sociedade tem pela frente. Se quisermos criar um cidadão preocupado com o futuro da humanidade, precisamos prepará-lo desde pequeno para não ser consumista. Mas não basta um discurso vazio, que joga para a criança toda a responsabilidade. O padrão de consumo da família é o modelo mais forte de comportamento.
Os jovens, futuros pais, parecem mais sensíveis aos apelos pela economia de água, contra o desmatamento e pela reciclagem, no entanto, ainda estão longe de adotar um estilo de vida menos consumista para reduzir a produção de lixo e o gasto de recursos naturais. E muitos dos pais de hoje cresceram sem tocar no assunto e precisam ser provocados a pensar sobre os impactos de suas ações sobre o planeta. A educação ambiental com foco no consumo exagerado ainda não está presente em casa nem nas escolas.
Ensinar a criança a dar um destino correto para as coisas que não usa mais é muito pouco para atender às necessidades do planeta. As novas gerações precisam querer e ter menos coisas, essa é a maneira mais eficiente de preservar o meio ambiente.
Para Mirna Folco, coordenadora de capacitação comunitária do Instituto Akatu, os conceitos de consumo consciente devem ser introduzidos na infância. A criança não tem dinheiro para comprar, mas já influencia as escolhas da família, portanto, precisa ter consciência dos impactos ambientais, sociais e econômicos dessas escolhas. Quando pede um brinquedo, uma roupa, um eletrônico, um cosmético, um bem de consumo qualquer, precisa ser levada a questionar se precisa daquilo, por que precisa, para que precisa.
A coordenadora acredita que desde muito cedo a criança tem capacidade para entender de maneira lúdica o gasto de recursos naturais, mas é preciso que os adultos desvendem isso para ela. “A criança acha que o produto nasce na prateleira”, disse. A educação ambiental deve utilizar a linguagem adequada a cada faixa etária. O instituto mantém um portal para crianças de 6 a 12 anos, o Akatu Mirim, com animações que mostram a cadeia produtiva e o ciclo de vida dos produtos, para que a criança entenda o consumo como um processo e não como um simples ato de compra. Antes de adquirir, é preciso saber o que comprar, por que comprar, como usar e como descartar, desenvolvendo a noção de exagero.
O processo começa pelo desejo, em geral, despertado pela publicidade, que inventa uma necessidade. O projeto Criança e Consumo do Instituto Alana apoia campanhas contra o consumismo infantil em dados sobre a falta de capacidade das crianças de até oito anos de idade para diferenciar propaganda e programação quando assiste à televisão. Elas são mais vulneráveis porque recebem todas as mensagens sem consciência crítica. Apenas por volta dos 12 anos, percebem que a publicidade tem o objetivo de vender. Bombardeadas por mensagens publicitárias que usam os personagens das histórias para vender os produtos com as marcas dos programas, as crianças são provocadas a querer e a pedir insistentemente para os pais.
Para Gabriela Vuolo, coordenadora de mobilização do Projeto Criança e Consumo, uma grande dificuldade é que o adulto que precisaria proteger a criança dessa avalanche de propagandas está inserido na sociedade de consumo e tem hábitos de compra arraigados. Os limites são impostos pelos pais apenas quando o consumo esbarra nas limitações financeiras da família. “Por falta de uma visão mais crítica, a situação pode avançar para o estresse familiar, com o pai frustrado porque não pode dar e o filho frustrado porque não pode receber. É preciso compreender que não dá para todo mundo ter tudo, o planeta não aguenta, passando para a criança uma educação ambiental.” É uma briga desleal, pois as crianças brasileiras ficam mais tempo em frente à televisão do que em contato com a família. Em média, são cinco horas diárias de TV, quatro horas na escola e três horas com os pais.
A escola, fundamental na educação ambiental das crianças, ainda não está preparada para enfrentar o consumismo infantil. É capaz de ensinar a criança a plantar uma árvore, mas não a pedir menos coisas para os pais. Na contramão do seu papel de educar para o consumo crítico, muitas instituições particulares e públicas de ensino estão abrindo suas portas para ações de merchandising travestidas de atividades educativas e de recreação. As empresas seduzem as crianças com a distribuição de brindes. Elas aprendem como escovar os dentes, mas voltam para casa com uma escovinha e um creme dental da marca.
fonte: delas.ig.com.br
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