Livro norte-americano ensina como criar os filhos para que eles enfrentem bem os problemas ao longo da vida
Livia Valim, especial para o iG São Paulo
Foto: Getty Images |
Segundo o dicionário Houaiss, resiliência é a “propriedade que alguns corpos têm de retornar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação”. Tomando emprestado o termo da física, a psicologia valoriza esta qualidade humana de lidar com os problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas. Com tanto instinto protetor, muitos pais preferem poupar os filhos dos problemas a ensinar a enfrentá-los, o que cria adultos com fraquezas insuperáveis.
Pensando nisso, o pediatra Kenneth Ginsburg, do Hospital Infantil da Filadélfia, nos Estados Unidos, se juntou à Academia Americana de Pediatria para lançar “A Parent’s Guide to Building Resilience in Children and Teens: Giving Your Child Roots and Wings” (“Um guia para os pais construírem resiliência em crianças e adolescentes: dando a seu filho raízes e asas”, em tradução livre). O livro explica que as crianças precisam saber que existe um adulto na vida delas que acredita e as ama incondicionalmente, mas não há como impedir a presença do estresse. “O truque é descobrir quando alguma coisa é realmente uma emergência ou as emoções estão apenas o fazendo agir como se fosse”, diz o médico na publicação.
Um artigo publicado na Healthy Children Magazine explica quais são os sete “C’s” definidos por Ginsburg como técnica para os pais ajudarem o filho na preparação para a vida:
Competência - Ajude as crianças a se focar em seus pontos fortes, incentive que tomem decisões e reconheça as competências de irmãos individualmente, evitando comparações.
Confiança - Reconheça sempre que seu filho fizer algo bem feito e não obrigue seu compromisso com mais tarefas do que pode suportar.
Conexão - Permita a expressão de todas as emoções, assim as crianças se sentirão confortáveis para pedir ajuda em momentos difíceis. Crie também uma área comum onde a família fique junta e possa conversar.
Caráter - Demonstre como os comportamentos afetam as outras pessoas, a importância de viver em sociedade e nunca faça declarações racistas ou estereotipadas.
Contribuição - Fale que muitas pessoas no mundo não têm tudo que precisam e crie oportunidades para que a criança contribua de alguma maneira.
Competição positiva - Demonstre estratégias de competição positivas no dia a dia e entenda que os pequenos precisam passar por algumas situações de estresse para aprenderem a lidar com ele.
Controle - Ajude seu filho a entender que os eventos da vida não são somente aleatórios: a maioria deles acontece como resultado de escolhas e ações.
Tecendo a resiliência
Estimular a resiliência está ligado a acolher e dar uma estrutura familiar saudável às crianças, ao mesmo tempo em que se ensina a enfrentar adversidades e respeitar regras. No começo da vida, o bebê é ansioso. Quando sente fome ou frio, demora pra entender que terá alguém para suprir suas necessidades.
Lá pelo quarto ou quinto mês, começa a entender que consegue o que quer, mas algumas vezes precisa esperar um pouco. “É aí que a criança começa a desenvolver a resiliência”, explica o neuropediatra Saul Cypel, consultor do Programa de Desenvolvimento Infantil da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal.
“Para começar, é preciso servir de exemplo. Os pais devem demonstrar integridade, confiança e autoestima elevada”, ensina a psicóloga da clínica Elipse, em São Paulo, Beatriz Otero. É de responsabilidade dos pais também validar seus filhos como pessoas, ou seja, demonstrar apoio ao que eles sentem e não diminuir seus medos e incertezas só por serem preocupações infantis.
Quando ele demonstra medo do escuro, por exemplo – você pode simplesmente dizer que bicho papão não existe ou compreender o sentimento, contar que também sente medo de algumas coisas, mas que está lá para apoiá-lo. Assim, seu filho não terá vergonha de expressar emoções e se sentirá seguro para viver plenamente os medos e enfrentá-los.
Uma das situações mais eficazes para estimular a resiliência nas crianças são os jogos em família. Deixar que elas ganhem sempre não ajuda em nada, pois você está criando a falsa impressão de que na vida nunca se perde. “Quem não convive com frustrações não cresce”, diz o dr. Cypel.
Explique também que seu filho não pode ter tudo o que quer. Um bom exemplo é levá-lo apenas como companhia pra comprar algo para você. Deixe ele perceber que o vendedor mostrou dez peças e você só levou uma. Depois, explique a importância de se fazer escolhas e que você gostaria de levar mais, mas não pode por “isso” e “aquilo”. “Não se cria resiliência por decreto. É um trabalho que vai sendo alinhavado como um tecido”, Cypel
fonte: delas.ig.com.br
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