Reprodução O primeiro livro publicado por Monteiro Lobato foi uma série de relatos sobre o saci-pererê. A partir daí, o personagem acabou ganhando destaque na maioria de suas história |
Hoje, um mito nascido no Amazonas tem versões modificadas ou totalmente diferentes no Sudeste, no Sul e no Nordeste. Caso da Mãe d'Água, índia-sereia na região Amazônica, e sereia-branca na região do São Francisco. Ou da boitatá, cobra de fogo surgida da escuridão no Norte, e de comer olhos de bicho no Sul. O fato é que, não importa sua origem, as histórias desses seres fantásticos, com poderes sobrenaturais, continuam encantando crianças e adulto. Mesmo que sejam histórias profundamente moralistas, como a da mula-sem-cabeça, ou histórias só para assustar, como a do Mapinguari.
Mãe-d'água (Iara)
Se você estiver passeando no final da tarde pelas margens do Amazonas ou do São Francisco ou navegando nos rios e ouvir um canto delicioso, que o faz ter vontade de saltar na água, cuidado. Você pode estar sendo atraído pela Mãe d'Água. Se conseguir escapar ao afogamento, não escapará da loucura. Diz a lenda que a Mãe d'Água é a versão feminina do Boto, que também gosta de um arrasta-pé e de seduzir os homens em terra, com sua beleza e boa conversa, e na água, com seu canto maravilhoso. Para alguns, ela é uma índia de olhos verdes, cabelos negros lisos e longos, de uma beleza estonteante. Para outros, ela é branca e loura, de olhos claros e igualmente linda.
© 2010 ComoTudoFunciona/Geisa C. Souza |
A origem do mito varia do Amazonas para o São Francisco. Na região da Amazônia, a Mãe-d'Água é conhecida como Iara (do tupi uiara). Filha preferida de um pajé, que em tudo a elogiava, ela matou os dois irmãos invejosos que haviam tentado matá-la e, com medo de contar ao pai, fugiu. O pai então resolveu caçá-la e quando a capturou, jogou-a no encontro dos rios Solimões e Negro. Iara ressurgiu como sereia numa noite de lua cheia, encantando quem passasse com sua beleza e sua voz. Homens que escutam seu canto se apaixonam e se atiram no rio e, quando chegam ao fundo, são devorados por ela.
Na região do São Francisco, a Mãe d'Água é uma sereia nascida no rio. Ela aparece quando o rio dorme, todas as noites, à meia-noite. Durante dois ou três minutos, o velho Chico para de correr, as quedas d'água param, os peixes deitam-se no leito do rio e os afogados seguem para as estrelas. É quando a Mãe d'Água vem à tona, procurando um banco de areia ou uma canoa para pentear os longos cabelos, cantando uma música muito bonita e atraindo para as águas aqueles que se atrevem a incomodar o sono do rio nesse pequeno intervalo de tempo. Por isso, os barcos que têm de navegar na hora morta do rio, costumam colocar uma carranca na proa para afugentar a Mãe d'Água e escapar da sina do afogamento.
Mas se carrancas do São Francisco são capazes de afugentar a sereia brasileira, o mesmo efeito elas não têm sobre uma outra criatura do folclore brasileiro.
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