Basta colocar os pés em qualquer escola pública do país para se perceber que os problemas ali presentes decorrem de deficiências em todas as áreas da sociedade, que incluem a falta de uma políticas sérias do Estado nacional em planejamento familiar, em emprego e renda, em redução das desigualdades sociais, em planejamento urbano, em saúde, em segurança, etc, etc… Pense no que podemos esperar dos nossos professores, com tudo o que a sociedade negligencia em relação à população que lhes destina para ensinar.
Sim, os alunos das escolas particulares estão muito “abusados” e seus pais com freqüência não se colocam “na pele” dos professores, mas para estes conflitos, se necessário, não faltarão psicólogos, médicos, quantos profissionais forem necessários para mediar tais conflitos. Sim, é verdade que a sociedade em seu conjunto vive uma crise de valores, que isso se reflete no comportamento de modo generalizado e que há uma crise de identidade em questões fundamentais como o papel da autoridade e dos limites.
O que é pior – e realmente de adoecer – numa crise, porém, é a absoluta falta de meios para enfrentá-la adequadamente, de modo que seja possível encontrar alternativas viáveis. Uma coisa é você, caso seja professor, enfrentar alunos com valores deturpados e pais omissos, ou arrogantes, por exemplo. Outra coisa é você atender alunos em algumas regiões da periferia onde a maioria dos filhos é criado só pelas mães, enfrentando problemas de desemprego, quando não de franca miséria, fome, em áreas urbanas sob controle do tráfico de drogas – e por aí vai.
Há alguma mágica que os responsáveis pela “educação” sejam capaz de fazer por pessoas tão desassistidas pelo Estado e pela sociedade, em tantos aspectos ? Não parece estranho que ninguém levante essa questão, por aí ? Pois é, por isso mesmo que os professores vem adoecendo, uma doença profissional que se convencionou chamar de “burnout” – expressão em inglês que signfica “queimar por completo” no sentido de consumir-se, esgotar-se em suas energias.
Essa forma de estresse não é privativa dos trabalhadores da educação, atinge também os da saúde, da segurança, enfim, a todos incumbidos de tarefas muito difíceis de serem realizadas, mais ainda nestes tempos da chamada “sociedade de massas” onde os conflitos de relacionamento se multiplicam rapidamente. Talvez o que torne mais evidente o “burnout” dos professores seja exatamente essa “honra” que a sociedade pensa estar lhes atribuindo quando realça o valor primordial do “educar” como a solução fundamental de todos os problemas. Já pensou ? Você gostaria de ter essa “honra”, ou preferiria compartilhá-la com a sociedade inteira ?
Montserrat Martins, Psiquiatra, é colunista do EcoDebate.
EcoDebate,
Há alguma mágica que os responsáveis pela “educação” sejam capaz de fazer por pessoas tão desassistidas pelo Estado e pela sociedade, em tantos aspectos ? Não parece estranho que ninguém levante essa questão, por aí ? Pois é, por isso mesmo que os professores vem adoecendo, uma doença profissional que se convencionou chamar de “burnout” – expressão em inglês que signfica “queimar por completo” no sentido de consumir-se, esgotar-se em suas energias.
Essa forma de estresse não é privativa dos trabalhadores da educação, atinge também os da saúde, da segurança, enfim, a todos incumbidos de tarefas muito difíceis de serem realizadas, mais ainda nestes tempos da chamada “sociedade de massas” onde os conflitos de relacionamento se multiplicam rapidamente. Talvez o que torne mais evidente o “burnout” dos professores seja exatamente essa “honra” que a sociedade pensa estar lhes atribuindo quando realça o valor primordial do “educar” como a solução fundamental de todos os problemas. Já pensou ? Você gostaria de ter essa “honra”, ou preferiria compartilhá-la com a sociedade inteira ?
Montserrat Martins, Psiquiatra, é colunista do EcoDebate.
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