Bahiatursa/Divulgação Bandeirinhas e balões decoram os arraiás das festas juninas |
Apesar do motivo religioso, as festas juninas têm um lado profano que inclui dança, bebidas alcoólicas, fogos de artifício, balões, quadrilhas e até simpatias.
Também chamadas pelos nomes dos santos – festas de São João, de São Pedro e de Santo Antonio -, as comemorações chegam a durar duas semanas em cidades do Nordeste brasileiro e nos Açores – arquipélago português.
Bahiatursa/Divulgação Banda de forró de Senhor de Bonfim, na Bahia |
Neste artigo, você vai saber como surgiram as festas juninas, como são comemoradas e onde os festejos são mais animados.
Origem das festas juninas
A festa é uma herança européia que chegou ao Brasil por intermédio dos portugueses, na época da colonização (1500/1822). Às tradições, o povo brasileiro acrescentou elementos locais, como forró, milho, jenipapo, aipim, tapioca.
Das missões francesas (século XIX), o povo brasileiro incorporou a “quadrille” (quadrilha), que é uma dança de pares, característica dos casamentos da França na Idade Média.
Prefeitura de Campina Grande/Divulgação Concurso Nacional de Quadrilhas, que acontece em Campina Grande (PB): herança das quadrilles francesas |
Para os católicos, as festas juninas são uma homenagem aos santos com aniversário em junho – Antônio (13), João Batista (24) e Pedro (29).
A história também registra a existência de festas semelhantes antes mesmo de o Cristianismo virar a religião oficial de Roma (século IV). Na Europa Antiga, os povos faziam festas com danças, comidas e bebidas, para reverenciar o Sol e a chegada do verão. Era a celebração do solstício de verão - momento em que o sol atinge sua maior declinação em latitude, e o dia se torna o mais longo do ano. No hemisfério Norte, ocorre no dia 21 de junho e, no hemisfério Sul, em 21 de dezembro.
No Nordeste, os festejos coincidem com o solstício de inverno e com a época da colheita do milho. Por isso, a maior parte dos quitutes é feita com o grão, a exemplo da canjica, da pamonha e do bolo de fubá.
Onde se comemora a festa junina
Brasil e Portugal mantêm até hoje o costume de homenagear com festas os santos com aniversário em junho. As comemorações são bastante populares no Nordeste brasileiro, em Portugal continental e nos Açores.
No Brasil, as comemorações se concentram entre os dias 23 e 30 de junho – semana em que se comemoram os aniversários de nascimento de São João (24) e de morte de Pedro (29).
Normalmente, Santo Antônio é homenageado com celebrações ecumênicas no dia 13. Em todas as regiões, principalmente nas cidades do interior, as igrejas e as comunidades organizam missas e procissões em sua devoção, mas é São João o santo reverenciado com as grandes festas.
Os Estados que realizam os maiores eventos são Alagoas, Bahia, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe. Nesses locais, crianças e idosos se divertem com concursos de quadrilhas, queima de fogos de artifício, fogueiras, barracas de comida espalhadas pelas ruas e brincadeiras, como o pau-de-sebo (pessoas tentam subir num mastro untado com sebo de boi.
Prefeitura de Campina Grande/Divulgação Abertura do São João em Campina Grande |
Quem chega ao fim do mastro, recebe pequenos prêmios, como doces, brinquedos de plástico e bichos de pelúcia) e a cabra cega (adultos e crianças de olhos vendados tentam romper com pauladas um pote de doces e brinquedos que é amarrado no alto de um pau. Cada um tem três chances para tentar quebrar o pote. Quando ele é rompido, os participantes se amontoam para pegar os doces caídos no chão.
Um costume antigo ainda é realizado nas cidades pequenas do Nordeste brasileiro - o de visitar as casas. Amigos se reúnem em grupos e vão por toda a cidade, batendo de porta em porta e perguntando: “São João passou por aí?” Quem responde sim, convida os visitantes para comer, beber e dançar forró.
As mesas costumam ser fartas e têm amendoim e milho assados e cozidos, canjica (doce feito com farinha de milho, leites de vaca e de coco, canela, cravo, sal e açúcar), pamonha (doce feito com milho verde, açúcar e coco ralado), bolos de aipim, de milho e de fubá (massa feita com milho), cuscuz de tapioca, pipoca e licores variados – os mais populares são os de maracujá, de jenipapo e de coco.
Caípa/Reprodução Canjica, um dos doces de milho das festas juninas | Tempo Mulher/Reprodução Pamonha, um dos doces de milho das festas juninas |
Melhores festas do São João no Brasil
O São João em Caruaru (PE) disputa com o de Campina Grande (PB) o título de maior e melhor do país. A festa imita os Carnavais da Bahia, com a apresentação de blocos e trios elétricos nas ruas. Os participantes vestem abadá – roupa típica dos Carnavais de Salvador (BA) -, mas, em vez de Axé, a música tocada é o forró. A festa tem concurso de quadrilhas, bonecos gigantes e balões de até quatro metros. No Estado de Pernambuco, as cidades de Recife, Cabo de Santo Agostinho, Sairé e Arcoverde também fazem grandes festas.
Prefeitura da Caruaru/Divulgação Show de Genival Lacerda em Caruaru (PE), "a capital do forró" |
Em Campina Grande, onde há a maior comemoração de São João da Paraíba, os festejos são organizados em espaços públicos, como o Parque do Povo, que tem quase 43 mil metros quadrados, e o Parque Evaldo Cruz – atual Centro de Cultura e Arte Marinês.
As prefeituras estimam que as festas em Campina Grande e Caruaru recebam cerca de 1,5 milhão de pessoas a cada ano.
Trem do Forró/Divulgação O Trem do Forró, que vai de Recife a Caruaru |
Na Paraíba e em Pernambuco, uma novidade atrai a atenção dos turistas – um passeio ferroviário ao som de forró. Tem o Trem do Forró, que vai de Recife ao Cabo de Santo Agostino (a 42 km de distância), e o Expresso do Forró, que vai de Campina Grande (PB) ao distrito de Galante (a 18 km da capital paraibana).
Prefeitura de Campina Grande/Divulgação Grupo de forró recebe turistas que vêm no Expresso do Forró, em Campina Grande |
Nos vagões, há música ao vivo, e os passageiros fazem a viagem ao som de forró pé-de-serra (tradicional). Também são recepcionados com festa quando chegam às cidades de destino. As passagens custam R$ 70 (Trio do Forró) e R$ 40 (Expresso do Forró).
Na Bahia, pelo menos 23 cidades do interior fazem grandes festas de São João – Amargosa, Barra, Barreiras, Cachoeira, Camaçari, Castro Alves, Conceição do Jacuípe, Cruz das Almas, Entre Rios, Irecê, Ilhéus, Itaparica, Itapetinga, Itororó, Jaguaquara, Jequié, Maragogipe, Paulo Afonso, Piritiba, Riachão do Jacuípe, Santo Antônio de Jesus, São Francisco do Conde e Serrinha. Em Salvador, capital do Estado, também há grandes festas em clubes e quadras da periferia, mas a comemoração é mais tradicional no interior.
Bahiatursa/Divulgação Quadrilha se apresenta no Pelourinho, em Salvador (BA) |
Nos bailes, em vez das inocentes cantigas populares e de estrelas como o músico e compositor pernambucano Luiz Gonzaga (1912/1989) e o acordeonista (sanfoneiro) paraibano Sivuca (1930/2006), os palcos dão lugar a bandas com nomes curiosos - “Mastruz com Leite”, “Caviar com Rapadura”, “Acarajé com Camarão”, “Cacau com Leite”, “Saia Rodada”, “Calcinha Preta”, “Gatinha Manhosa” , “Fogo na Saia”, “Flor de Cactus”, “Limão com Mel”, “Mingau com Cevada”, “Colher de Pau”, “Sarapatel com Pimenta” e “Mulheres Perdidas”.
Bahiatursa/Divulgação Show de forro em Cruz das Almas, na Bahia |
Em cada cidade, há pelo menos uma grande atração, como Elba Ramalho, Margareth Menezes, Bruno e Marrone, Zezé De Camargo e Luciano, Leonardo, Daniel, Virgílio, Edil Pacheco, Paulinho Boca de Cantor e as bandas Calypso e Cheiro-de-amor.
Além desses municípios, Mossoró (RN), Aracaju (SE), Maceió (Alagoas), Juazeiro do Norte (CE) e Teresina (PI) têm tradição na realização de festas de São João.
Em cidades como São Paulo – capital mais rica e com maior população do Brasil- Rio de Janeiro e Belo Horizonte, as comemorações são menores e normalmente realizadas em clubes e praças de periferia.
Na noite do dia 28 e até o dia 29, os festejos se repetem na maioria das cidades com forte tradição em festa junina. É a vez de homenagear São Pedro, conhecido como o Santo que traz as chuvas, que são imprescindíveis para a subsistência do Nordeste. Os eventos são semelhantes aos de São João, mas já não levam tantos turistas às cidades do interior.Símbolos das festas juninas
No Brasil, as festas juninas são marcadas por música, dança e também por tradições. Os festejos incluem arraiá, casamento caipira, quadrilha, fogueira, fogos de artifício, balões, bandeirinhas, pau-de-sebo, puxada de mastro e simpatias.
O Arraiá é o nome caipira que se dá ao local onde as quadrilhas são encenadas. Deriva da palavra arraial, que significa lugarejo de caráter provisório. Deve lembrar o ambiente de uma roça. Normalmente é enfeitado por bandeirinhas e balões coloridos e tem uma fogueira ao centro.
A quadrilha vem da tradição francesa de dançar em pares durante as festas de salão e os casamentos na corte. É formada por grupos de casais e encena a história de um casamento caipira - dois jovens simples do interior se unem porque a moça está grávida, e seu pai obriga o rapaz a se casar com ela.
Bahiatursa/Divulgação Quadrilha de festa junina, em Palmeiras, na Bahia |
Para os cristãos, a fogueira está relacionada ao nascimento de São João Batista. Contam os católicos que Santa Isabel acendeu uma fogueira para avisar à Maria, mãe de Jesus, do nascimento de seu filho, João Batista, no dia 24 de Junho. Para os pagãos, a fogueira espanta os maus espíritos. Segundo a tradição, no aniversário de Santo Antônio, a fogueira é montada em formato quadrangular; no de São João, tem forma de pirâmide; no de São Pedro, formato de triângulo.
Os católicos explicam que os fogos de artifício servem para despertar São João, e os balões, para levar os pedidos dos devotos aos céus. Os supersticiosos acreditam que é mau presságio o balão não subir. A prática de soltar balões foi proibida no Brasil pela Lei Federal 9.605/98, que, em seu artigo 42, trata da fabricação, venda, transporte ou soltura de balões. O ato é considerado crime ambiental, porque oferece risco de incêndio. A pena para os infratores é de detenção de um a três anos ou multa.
A puxada do mastro é o ritual de levantamento das bandeiras de Santo Antônio, São João e São Pedro. Normalmente, marca a abertura das festas juninas e é acompanhada de queima de fogos de artifício. Na crença popular, a bandeira vira na direção de uma casa ou de uma pessoa que será abençoada.
Prefeitura de Caruaru/Divulgação Bonecos gigantes no São João de Caruaru |
As simpatias juninas versam geralmente sobre dinheiro, fartura e casamento. A mais comum é a de colocar Santo Antônio de cabeça para baixo, pendurado pelos pés, na noite do dia 12 de junho – véspera de seu aniversário de morte. No dia seguinte, a pessoa que fez a simpatia deve conhecer um amor.
Para que nunca falte comida, é costume no Nordeste brasileiro colocar um pãozinho dentro da farinheira. É conhecido como pão de Santo Antônio.
Segundo a crença popular, para saber se o ano será próspero, basta colocar uma folha de louro no telhado da casa, no dia 23 de junho – data anterior à comemoração do São João. No dia seguinte, se a folha ainda estiver verde é sinal de dinheiro.
Santo Antônio, São João e São Pedro
Santo Antônio nasceu em Lisboa (Portugal), no ano provável de 1195 – não há consenso histórico com relação à data – e foi batizado como Fernando.
Freqüentou a escola até os 15 anos e iniciou seus estudos teológicos no Mosteiro de São Vicente de Fora. Aos 24 anos, foi ordenado padre na Escola Monástica de Santa Cruz, em Coimbra. Viajou pelo Marrocos em trabalho missionário. Teve problemas de saúde e voltou para a Europa. Passou a viver na Itália, onde desenvolveu suas habilidades para a oratória e ampliou estudos bíblicos. Foi nomeado pregador da Ordem Geral. Seus sermões eram famosos por cativar cristãos de todas as classes sociais.
Morreu em Pádua (Itália), aos 35 anos, no dia 13 de junho de 1231. Sob seu túmulo, a Igreja Católica construiu uma basílica.
A fé em Santo Antônio foi difundida no Brasil pelos padres franciscanos. A primeira igreja brasileira construída em seu louvor está em Olinda (PE). Sua imagem o mostra sempre com um menino Jesus no colo, para lembrar que era um santo adorado pelas crianças.
Sua fama de santo casamenteiro teria surgido na Idade Média, depois de sua morte, por meio de uma história propagada pelos devotos. Uma mulher pobre teria pedido ajuda ao santo para se casar e logo conseguiu o dote de que precisava.
De acordo com a Igreja Católica, São João Batista nasceu no dia 24 de junho, de ano incerto, antes de Cristo. Seu nascimento foi considerado um milagre, porque seus pais - Zacarias e Isabel, parente de Maria, mãe de Jesus - já haviam passado da idade fértil. Segundo a Bíblia, João Batista teria como missão anunciar a chegada do Messias, Jesus.
Ficou conhecido pelas cerimônias que realizava no Rio Jordão, onde batizou Jesus. O local, que fica em território israelense, no Oriente Médio, é hoje visitado por milhares de turistas e devotos.
Em 29 de agosto de 29 d.C, João Batista foi degolado a mando do rei Herodes Antipas e a pedido de Salomé, filha de Herodíades. Diz a Bíblia, que João Batista criticou o casamento do rei com Herodíades, que era sua cunhada, e que, por isso, Salomé teria sido instigada pela mãe a pedir a cabeça de João Batista numa bandeja.
Conhecido pelos católicos como Príncipe dos Apóstolos, São Pedro (10 a.C – 67 d.C) nasceu na Galiléia e é considerado o primeiro Papa da Igreja Católica. Teve sua história registrada nos evangelhos de João, Lucas, Mateus e Marcos. Teria sido o escolhido de Jesus para propagar a fé cristã.
São Pedro foi preso pelo rei Agripa I e enviado a Roma, onde liderou uma comunidade religiosa que seria a base da Igreja Católica Romana. Teria sido executado por ordem de Nero. Acredita-se que está enterrado sob a Catedral Basílica de São Pedro, no Vaticano (Itália).
São Pedro é considerado um santo especial no Nordeste, por ser o santo que traz as chuvas da estação e "irriga" as plantações. Há uma crença popular que diz que se no dia de São Pedro, 29 de junho, chover, a colheita será farta.
Um comentário:
Olá bonecas!
Vocês conseguem uma proeça atribuída a poucas que conheço: se superam a cada dia.
Parabéns pelo belo e atualizado trabalho. Tenho vocês guardadas dentro de uma caixa de presente que é o meu coração, lugar especial, assim como os meus alunos que as adoram.
Que Deus acompanhe vocês em toda essa linda trajetória!
Beijinhos da Tia Mere e sua turma.
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