sexta-feira, 9 de abril de 2010

O que são os rios voadores?

Em 2008, um rio voador que chegou à cidade de São Paulo transportava 3,2 milhões de litros (mais do que uma piscina olímpica) de água por segundo

Por Leandro Novakowski

São imensas massas de vapor d’água que, levadas por correntes de ar, viajam pelo céu e respondem por grande parte da chuva que rola em várias partes do mundo. O principal rio voador do nasce no oceano Atlântico, bomba de volume ao incorporar a evaporação da floresta Amazônica, bate nos Andes e escapa rumo ao sul do país. "O vapor d’água que faz esse trajeto é importantíssimo para as chuvas de quase todo o Brasil", afirma o engenheiro agrônomo Enéas Salati, da Universidade de São Paulo (USP). Veja a seguir os meandros impressionantes dessa gigantesca corredeira voadora.
Corredeira voadora Volume de água que circula pelo céu é similar à vazão do rio Amazonas 1. O rio voador nasce no oceano Atlântico. A água evapora no mar, perto da linha do Equador, e chega à floresta Amazônica empurrada pelos ventos alísios. Esse blocão de vapor passa rasante: 80% dele voa a, no máximo, 3 quilômetros de altura
2. A vazão desse aguaceiro aéreo é da ordem de 200 milhões de litros por segundo (similar à do rio Amazonas), fazendo da Amazônia uma das regiões mais úmidas do planeta, além de provocar as chuvas que desabam diariamente por toda a região
3. Enquanto passa sobre a floresta, o rio voador praticamente dobra de volume. Isso ocorre porque, ao absorver mais radiação do do que o próprio oceano, a mata funciona como uma gigantesca chaleira, liberando vapor com a transpiração das árvores e a evaporação dos afluentes que correm no solo
4. No oeste da Amazônia, a massa de umidade encontra uma barreira de montanhas de 4 quilômetros de altura, a cordilheira dos Andes, que funciona como uma represa no céu, contendo a correnteza aérea do lado de cá
5a. Boa parte do vapor fica acumulada nos próprios Andes, sob a forma de neve. Ao derreter, essa água desce as montanhas, dando origem a córregos que, por sua vez, formarão os principais rios da bacia Amazônica, como o Amazonas
5b. Nem todo vapor que encontra os Andes fica por ali. Cerca de 40% dessa cachoeira celeste segue rumo ao sul. A umidade passa por Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e São Paulo, terminando a viagem no norte do Paraná, cerca de seis dias depois
6a. Enquanto flui em caudalosos veios rumo ao mar, muito da água proveniente dosrios voadores é absorvido pela floresta. Quando transpiram, as árvores então liberam esse líquido em forma de vapor, fechando o ciclo que novamente alimentará a corrente no céu
6b. Por fim, o rio voador cai em forma de chuva. Mais da metade da precipitação das Regiões Centro-Oeste e Sudeste vem dos rios aéreos da Amazônia. Além desse veio principal, outras 20 correntezas cruzam o céu do país, carregando um volume de água equivalente a 4 trilhões de caixas-d’água de 1 000 litros! • Para ter ideia da importância dos Andes, a floresta Amazônica surgiu há cerca de 15 milhões de anos, bem na época em que a cordilheira se formou • A equipe de Gerard Moss já fez 12 "mergulhos" nos rios voadores, coletando centenas de amostras de vapor d’água • Em 2008, um rio voador que chegou à cidade de São Paulo transportava 3,2 milhões de litros (mais do que uma piscina olímpica) de água por segundo
Caçadores de nuvens Pesquisadores "surfam" as correntezas aéreas para estudar o fenômeno Desde 2008, um projeto científico tenta conhecer melhor os rios voadores. O líder da pesquisa é Gerard Moss, engenheiro e explorador francês naturalizado brasileiro. O trabalho dele consiste em voar com um monomotor coletando vapor d’água. "Enquanto todos os pilotos evitam as nuvens, eu vou direto para elas", diz. Em seu avião, Moss caça a umidade usando tubos de 40 centímetros resfriados a 70 graus negativos. Numa temperatura tão baixa, qualquer vapor que entra no tubo se transforma, imediatamente, em água. As gotas são então armazenadas para análise em laboratório.
: revistamundoestranho

Nenhum comentário: